
Tenho algumas recordações das minhas aulas de história, mas se há matéria que me marcou foi a Segunda Guerra Mundial. Parece que me consigo transportar para aquela sala de aula do 9º ano e vejo-me sentada na minha secretária a ouvir a professora falar sobre um dos maiores atentados à Humanidade: o Holocausto, termo que se refere ao assassinato em massa de cerca de 11 milhões de pessoas pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Lembro-me das primeiras imagens que vi dos campos de concentração no meu livro de história e, quando tive conhecimento que ainda existia o de Auschwitz-Birkenau como museu, lembro-me de pensar “quem me dera visitá-lo”, mas parecia-me algo impossível.

Em 2002, estava longe de sonhar que iria visitar vários países do mundo e viajar naquela altura parecia-me um luxo. Ainda bem que as coisas mudaram e quando comecei a juntar dinheiro para viajar de forma independente, a Polónia foi um dos primeiros países que visitei.

Embora Cracóvia seja uma cidade lindíssima, tenho que admitir que o principal objetivo da viagem foi visitar o Campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau. Se estiver interessado em visitar Cracóvia poderá ler todas as dicas aqui.
Visitar Auschwitz-Birkenau
Os nazis consideravam os judeus como os culpados pela crise que a Alemanha atravessou após a Primeira Guerra Mundial e, por isso, deveriam ser combatidos. Começaram por obrigá-los a andarem identificados com uma Estrela de Davi (símbolo religioso), a abandonarem as suas casas e a viverem em guetos criados.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a perseguição a opositores, homossexuais e a grupos étnicos tornou-se mais vincada, principalmente a judeus e ciganos, tornando-os prisioneiros em campos de concentração onde eram obrigados a trabalhos esforçados em condições desumanas, executado-os e chegando ao extremo com a medida mais radical que designaram como “solução final”: a eliminação dos prisioneiros através do uso de gás tóxico e posterior cremação em fornos.

Chegada dos prisioneiros ao campo onde eram separados: de um lado homens e do outro mulheres e crianças
(fotografia de foto em exposição em Auschwitz)Auschwitz é o maior complexo de campos de concentração construído na Polónia após a sua invasão pela Alemanha.
O primeiro a ser construído, inicialmente para prisioneiros de um determinado conflito. Contudo, durante o regime nazista, assumiu um papel mais obscuro, tornando-se no principal centro de extermínio da história onde mais de 1 milhão de pessoas foram assassinadas, sendo que, o que acontecia entre os seus “muros” não era noticiado nem mesmo para a população alemã em geral.
No final da Segunda Guerra Mundial, os edifícios e instalações ainda estavam preservados pois foi um dos primeiros a ser libertado pelas tropas soviéticas e os nazis não tiveram tempo de os destruir como fizeram com outros.
Auschwitz I
Reconstruídos e preservados pelo governo Polaco, estes campos foram transformados num museu que funciona como um Memorial às vítimas e atualmente é possível visitar dois campos de concentração do complexo: Auschwitz I e Auschwitz II (Birkenau).
Como chegar
Entrada do museu
O complexo de campos de concentração fica na cidade de Oświęcim situada a 80km de Cracóvia. Desde Cracóvia, há 2 formas para o visitar:
1.por conta própria – é a forma mais económica e nada complicada. Foi a nossa opção e poderá ser realizada através de:
- autocarro –optamos por ir de autocarro pois é a forma mais prática. Na Estação Central de Cracóvia há vários autocarros que saem diariamente em direção à cidade de Oświęcim e deixam os passageiros mesmo junto a Auschwitz;
- comboio – na Estação Central de Cracóvia, apanhar um comboio em direção a Oświęcim e ao sair da estação terá que apanhar um autocarro/táxi até Auschwitz;
2. excursão – poderá reservar uma excursão organizada desde Cracóvia que inclui o transporte, entrada e guia (várias línguas disponíveis). Os preços rondam os 35€ (Reservar aqui)
Dicas para visitar Auschwitz de forma independente (autocarro):

Visita com guia e audioguia
- ter em atenção que esta visita é muito requisitada e poderá esgotar facilmente principalmente no verão, por isso, terá que reservar com antecedência;
- apanhar o autocarro público em direção a Oświęcim , na estação de autocarros (Dworzec Autobusowy MDA) que fica na parte de cima da Estação Central de Cracóvia e sair na estação de Oświęcim Museum;
- os autocarros circulam entre as 6h e as 20h, a cada 10-30min (consultar horários aqui);
- a viagem de autocarro dura 1h30;
- o bilhete de autocarro ronda os 5€/pessoa;
- a entrada em Auschwitz-Birkenau é gratuita, a não ser que prefira visita com guia que pode ser individual ou em grupo;
- o horário de visita varia entre as 7h30-14h00 e 07h-19h, de acordo com a época do ano (consultar o horário no site oficial);
- a visita com guia é paga (+/-12,50€), está disponível em várias línguas e permite perceber especificamente o que estamos a visitar e a história de todo o complexo em que os guias tentam transmitir da melhor forma o que os prisioneiros passaram;
- para a visita com guia é aconselhável chegar cedo (pois há muita procura e poderá já não ter disponibilidade para esse dia) ou marcar pelo site oficial;
- há um café dentro do museu para comprar snacks, mas pode optar por comprar comida rápida e fresca (fatias de pizza, sandes, iogurtes, fruta, etc…) num mercado que há dentro da Estação Central de Cracóvia antes de chegar à estação de autocarros;
- Os dois campos, Auschwitz I e Birkenau estão separados por uma distância de 3km, mas há um autocarro do museu que é gratuito e faz este percurso a cada 10min (Abril-Outubro) ou 30min (Novembro-Março);
- não é considerado correto tirar fotos com poses elaboradas. É um local de reflexão e respeito onde circulam familiares das vítimas.
A nossa experiência passou por comprar alguma comida para levar (no mercado da Estação Central de Cracóvia), ir cedo para a estação de autocarros e comprar o bilhete de autocarro na hora. Quando chegámos a Auschwitz havia alguma fila para comprar os bilhetes. Optámos por comprar a entrada com guia em Inglês e foi relativamente rápido.
Entre o Museu e Auschwitz I
Inicialmente visitámos o Museu, logo à entrada, onde assistimos a um pequeno documentário sobre este complexo de campos de concentração. À hora marcada, reunimos com o nosso grupo e com o guia que nos entregou um audioguia para ouvir a sua explicação ao longo da visita.
Aushwitz I

Iniciámos a visita ao primeiro campo, Auschwitz I que recebe os visitantes com a famosa frase no seu portão “Arbeit Macht Frei” que significa “O trabalho liberta”. A mesma frase que acolhia os recém-chegados ao campo e os iludia de forma a pensarem que se trabalhassem bem poderiam ser libertados.

Todo o campo está vedado com rede de arame farpado para evitar fugas
Foi o campo de concentração original e o centro administrativo de todo o complexo onde ficavam os edifícios em que viviam os nazis.
O campo está dividido em blocos onde hoje existem exposições marcantes com documentos e fotografias da época e permite conhecer as condições em que viviam, os antigos barracos onde dormiam e uma parte da coleção de objetos que eram retirados aos prisioneiros à chegada ao campo.

Bloco 6
dormitórios farda de trabalho (com riscas azuis e brancas)

Nesta exposição ficámos a conhecer a idade com que alguns prisioneiros morreram, a data em que entraram no campo de concentração e a data em que foram executados, constatando que muitos deles não conseguiram sobreviver muito tempo no campo.
Forno crematório que os nazis não conseguiram destruiur Memorial
Os objetos que retiravam aos prisioneiros:
A visita tem a duração de pouco mais que uma hora e antes de seguirmos para o próximo campo, o grupo fez uma pausa e pudemos almoçar num banco do jardim do lado de fora de Auschwitz I.
Birkenau (Auschwitz II)

De seguida, apanhámos o autocarro do museu até ao segundo campo, Birkenau, a imagem de muitos filmes, séries e livros pelo seu “famoso” portão por onde entrava o comboio com os prisioneiros.
Chegada a Birkenau
Maior em tamanho, foi construído posterior e propositadamente como campo de extermínio e não como campo de trabalho. Para isso, foram construídas 5 câmaras de gás e fornos crematórios com capacidade para 2500 prisioneiros cada. Hoje-em-dia ainda é possível ver algumas das suas ruínas pois os nazis tentaram destruí-los para encobrir os seus atos.
Na admissão no campo, os prisioneiros eram selecionados, alguns iam diretamente para as câmaras de gás, outros eram enviados para os campos de trabalho e outros eram utilizados em experiências.
um dos vagões que transportava os prisioneiros Imagem dos vagões na época
redes em arame farpado e eletrificadas
Chaminés dos fornos crematórios
Os barracos em que viviam A casa de banho “pública” Os dormitórios
As marcas de quem por ali passou
To the memory of the men, women and children who fell victim to the Nazi genocide. Here lie their ashes. May their souls rest in peace.
Estrela de Davi
“Que este lugar, onde os nazis exterminaram um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, a maior parte judeus de vários países da Europa, seja para sempre um grito de desespero e um sinal para a Humanidade”.
No final da visita, ainda tivemos algum tempo livre para vaguear pelo campo antes de regressar a Auschwitz I onde apanhámos o autocarro de regresso a Cracóvia.
Visitar estes campos de concentração está muito longe de ser algo divertido e é por isso que nem todas as pessoas se sentem emocionalmente preparadas para tal. No entanto, considero crucial, como cidadãos, partilharmos um dos momentos mais trágicos e importantes da história do século XX.

Uma opinião sobre “Visitar Auschwitz – Birkenau: da história ao memorial”